sexta-feira, 23 de março de 2007

Minha amiga Clarisse

Ela disse que "só" faltam 30 páginas da minha dissertação. Isso significa 1/3, já que são 90 páginas. Aliás, mais do que 1/3, pois ela disse 30 páginas de texto, que as capas e a bibliografia ela já olhou. Pois é.

Pedi que ela fizesse a revisão porque me recuso a entregar as cópias para a biblioteca com o festival de vírgulas mal empregadas que caracteriza meu texto. Sempre que tenho alguma dúvida em português grito por Clarisse.

Quando ela disse que tava "quase terminando" perguntei o que ela tinha achado. "Quando eu crescer quero ser que nem você". Nada, Cla. Eu que me tornei como você quando cresci. Foi com Clarisse que eu apreni que gatinhos abandonados na rua a gente pega e leva pra casa. Não importa se não temos dinehiro pra cuidar, se ele tá muito mal e talvez morra, que os outros moradores da casa vão nos esculhambar. Não se deixa um gatinho ao relento.

Conheci Clarisse na faculdade de Comunicação. Lembro que logo nos primeiros dias um babaca de outro período trouxe, à guisa de trote, um gatinho doente e colocou na nossa sala dizendo que teríamos que cuidar do gato. Clarisse pegou o gato no colo e levou pra casa. Eu fiquei com dó do gato, senti desprezo pelo idiota que trouxe o bichinho e admiração por ela. O gatinho tava muito mal e morreu, mas ela levou pra casa e fez tudo que pôde. Ele morreu se sentindo seguro e amado.

Naquele dia eu aprendi o que se faz quando um gatinho cruza nosso caminho, não importa em quais condições.

Anos depois, já formadas, eu me separei. Quando viu que eu não ia voltar, meu ex-marido exercendo seu talento circense e babaquice latente, ligou dizendo que se eu não fosse buscar minha gata ele ia levar pra Suipa. Eu ainda tava freak com a separação e tava na casa da minha mãe, que avisou que era eu ou a gata. Quando conheci o palhaço ele me enganou, sabe? Ele disse que adorava felinos e tinha quatro gatos. Os gatos eram da mãe dele e, digamos assim, ele não era o maior fã de felinos que já conheci. Pois bem, fiquei apavorada e liguei pra Clarisse. "Eu arrumo uma casa pra ela, se não arrumar eu fico com ela, pra Suipa não vai, pode trazer". Ela é mãe da gata doida da Luiza até hoje.

Eu e Clarisse somos muito amigas. Não nos vemos muito, não nos falamos sempre, mas somos amigas e uma sabe que pode contar com a outra. Talvez sejamos tão amigas há tanto tempo, exatamente porque não fazemos cobranças uma pra outra.

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