quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Que merda

Como desgraça nunca vem sozinha, eu nem tive tempo de me dedicar a minhas angústias comezinhas, fúteis e egoístas. Veio logo um problema de saúde, um problema familiar pra exigir minha dedicação e me deixar sem chão ao mesmo tempo. Minha mãe está doente de novo. Parece que desta vez ela teve uma isquemia cerebral, está com dificuldade de locomoção e de fala. Ta fazendo exames. Passei a manhã de segunda-feira com ela no hospital. Ela já havia pego gosto por levar tombos e se estrupiar, agora tomou gosto por perebas neurológicas variadas. Gosto por tomar os remédios e seguir o tratamento nem pensar. Disposição para de fumar muito menos.

Eu vivo um dilema. É minha mãe, porra, claro que me importo, que choro, que sofro, que dói. Mas, por outro lado, a própria educação que recebi me ensinou que todo mundo tem o direito de fazer o que quiser da sua vida, desde que arque com as conseqüências. Eu sei que ela tem o direito de se negar a ser tratada e fumar até morrer. Eu sei que ela, como qualquer um, tem o direito de se matar, de desistir, de decidir morrer. Pra mim, ninguém, mesmo eu como filha, tenho direito de me meter. Que merda.

Bom, vou fazer o que acho certo e posso. Vou levar a todos os médicos, para fazer todos os exames, vou comprar todos os remédios e tentar expor a ela, com toda a sinceridade, os riscos, os prós e contras de cada escolha. Não posso escolher por ela nem impor tratamento.

Ter senso crítico, às vezes, é uma merda.

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