sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Sexta-feira

Sexta-feira

Hoje meu dia não começou nada bem. Acordei menstruada e com cólica. Levantei na hora certa de todos os dias e fui tomar banho para acordar, como todos os dias. O despertador (na verdade o alarme do celular) ficou doido e começou a tocar enlouquecidamente quando eu tava com a cabeça cheia de espuma. Ficou lá tocando (e me irritando) até eu sair do banho. Eu tinha desativado, ele simplesmente surtou. Péssimo, pois adoro tomar banho e considero meu momento quase sagrado. Não admito que incomodem meu banhinho da felicidade, para o qual compro tantos sabonetes, shampoos, cremes e poções variadas.

O tempo parecia que queria abrir, mas tava indecido. Coloquei uma blusa de manga 3/4 preta com um casaquinho rosa-choque por cima pra dar uma animada no visual. Se o dia esquentasse poderia tirar o casaco. Naturalmente antes dessa decisão troquei de roupa umas dez vezes, pois nada me fazia feliz ou vestia bem, ainda mais menstruada inchada.

Fui tomar café. Quando abri o armário para pegar a caixa de filtros de papel havia um milhão de formigas dentro do armário. Formigas loucas ou alcoolatras, porque não há nada "de comer" nele. Só filtro de papel, potes vazios e garrafas de cachaça, saque e vinho. Peguei o rolo de papel toalha e a garrafa de alcool e limpei todo o armário, matando as formigas. Ainda dei umas borrifadas de inseticida atrás do armário, pra garantir. Na minha casa, vivo só eu.

Na hora de sair de casa, quase atrasada, percebi que só tinha R$ 10. Não dava pra vir pro trabalho porque gasto no mínimo R$15: R$ 4,20 de passagem e R$ 10 pra almoçar, isso se não tomar refrigerante nem café expresso. Ontem eu ia ao banco quando cheguei, mas tava chovendo e acabei esquecendo, assim como de ir na lavanderia reclamar pela fronha branca desaparecida (quando desembrulhei o pacote anteontem dei falta da peça). Não tem caixa do meu banco onde trabalho e trabalho no meio do nada. Teria que ir ao banco e certamente chegaria um pouco atrasada. O que não tem remédio remediado está e vamos em frente.

O banco mais próximo da minha casa, na rua vizinha, só abre das 10h às 16h, logo eu não o vejo aberto, apenas com mendigos dormindo na porta. Há outras duas agências nas imediações: ou eu ando duas quadras pra ir e outras duas pra voltar e depois pego ônibus um ponto antes do usual ou ando quatro pra ir e depois outras duas até o ponto após a Praça da Cruz Vermelha, onde sempre tem um trânsitozinho. Bom, sempre prefiro essa opção porque tô andando pra frente e ainda dá pra parar na banca e comprar uma revista pra bisoiar na condução.

Quando cheugei, vi pelo vidro que o aquário dos caixas eletrônicos estava LOTADO, quase todos os "clientes" matutinos eram velhos. Nos vidros, vários cartazes de "Estamos em greve" colados. Putaquepariu, é dia 10. Os funcionários públicos estaduais, ativos e inativos recebem no dia 10. Os velhotes psicopatas e desocupados correram pro caixa eletrônico já de manhã pra pagar suas contas e raspar a pensão. Putaquepariu. Como não tinha jeito, entrei na fila. Claro, as porras dos velhotes levavam um século empacados no caixa e recomeçavam várias vezes cada procedimento. Parece que eles estavam meio apavorados com a greve bancária. Claro que eles não sabem fazer os pagamentos pela internet.

Não contente, o destino me brindou com a companhia de um velho mais desgraçado que os outros, de vozeirão potente, que na falta de uma ereção pra tocar uma punheta matinal, foi para o banco incitar o horror. Já entrou dizendo que a situação era muito grave. Hein? Começou a discursar que precisavamos nos unir, que era grave, precisavamos protestar. Ô vovô, protestar contra sua chatice? Onde que eu reclamo além do meu blog? Não, finalmente ele explicou, era pra reclamar da fila do banco. Ô imbecil, se vcs não viessem todos correndo de manhã e não levassem uma hora pra pagar cada conta não teria fila. Ah, e se o senhor não tivesse vindo atrapalhar tb andaria mais rápido, porque várias velhas pararam pra ouvir. Ele deve ser uma espécie velhote galã rebelde tardio. O macróbio protuso continuou. De acordo com seus delírios persecutórios, "já inventaram essa história de crise mundial, agora entraram em greve. Daqui a pouco vão dizer que o banco faliu e vão roubar nosso dinheiro. É muito grave, não podemos ficar parados". Putaquepariu 20 vezes, caralhos 30 vezes. Por que essa porra de velho não se contenta em dar milho aos pombos na praça, hein? A fila aconteceu tão somente porque vocês todos resolveram vir raspar suas merrecas ao mesmo tempo. Eu só quero 10 reais pra ir pro trabalho, dá pra alguém me deixar usar o caralho do caixa eletrônico?! Merreca de 10 me basta! Preciso de 10 mangos pra pagar aquela comida podre que eles me servem na hora do almoço. A outra velha começa a resmungar "esse caixa tá ruim, não faz transferência, só saque!" e voltou pra fila. Ei, eu quero sacar, me deixa passar a frente! Porra nenhuma, cada velha podre desgraçada daquelas quis ir conferir que pobre de cristo da máquina não fazia transferência, afinal, elas são velhas, têm o direito de usar o caixa antes de mim. Claro que fazia transferência, elas que eram toscas demais pra usar o equipamento. Finalmente um casal de velhos podres saiu claudicando e resmungando que "assim não pode, assim não dá, como não tem nenhuma mocinha pra ajudar a gente?" e liberou um caixa pra eu usar. Porra, vcs têm uma alternativa: tomem chumbinho mata-e-seca-o-rato que tb mata-e-seca velhos podres e parem de produzir esgoto no mundo. Ufa! Obtive minha bufunfa, tratei de sacar logo a grana do fim de semana e me mandei. Não deu tempo de parar na banca de jornal pra comprar a edição de Nova deste mês. Merda. Tô atrasada.

Quando eu saí do banco um lindo dia de céu azul e sol havia se instalado. Adoro sol, no entanto estou com uma roupa quente. Tudo bem, melhor que chuva.

O ônibus demorou e parou longe. Sentei ao lado de uma mocinha loura. Ela era obviamente loura do pentelho preto, como diria Ana Paula Mattos, não importa, o que importa é que é jovemzinha. Humpf. Poucos pontos depois ela desceu e um velho gorducho desgraçado sentou ao meu lado. Ele foi a viagem toda conversando com algum outro imbecil, tiranto onda de que ia comprar um carro (velho, é claro) por uma porra dum nextel. Odeio aquele PI-PI que esses rádios fazem. Quando levantei e pedi licença o monte de merda velha disse "vou descer tambem e ficou empatando a passagem". Eu só podia passar depois que ele levantasse, claro, ele é velho, tem prioridade pra empatar o mundo. Não ia permitir que eu descesse do ônibus antes dele.

Eu já disse que odeio velhos?

Desci do ônibus sentindo muito calor, atravessei rua recentemente aberta onde a terra e a poeira que ontem eram lama cobrem o asfalto, passei no meio dos veículos de tranasporte "alternativo" ilegal e subi a passarela empoeirada e cheia de gente feia e desgraçada. Após caminhar 10 minutos consegui sentar na porra da minha mesa naquele pardieiro onde ganho meu sustento. Claro, tava atrasada pra caralho.

Tudo bem, hoje é sexta-feira e à noite vou sentar na minha pizzaria favorita com minhas amigas queridas e tomar chope. Se a conjunção astral for favorável, talvez eu vá dançar depois. Quer saber o que mais? Foda-se e caguei pro mundo. Pau no cu dos velhos podres, morram fedendo, que eu vou morrer bebendo.

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