Eu sabia que tinha acabado o pó de café. Usei a última dose na sábado. Fantasiei que ia passar no supermercado em algum momento do fim de semana. Vãs ilusões, óbvio. Daí, ontem à noite, planejei tomar café da manhã na padaria hoje. Adoro tomar café na padaria, sentadinha na mesinha mais próxima à calçada, vendo o povo e seus costume passarem, sentindo a cidade. Sempre dá uma melhorada no meu humor.
Na hora que ia sair de casa caiu um dilúvio. Resolvi esperar. Decidi que não saio mais de casa pra trabalhar embaixo de temporal, só se tiver uma reunião muito, mas muito importante mesmo. Sentei e esperei. Não passava. Fiz um queijo quente e comi com suco de uva. Não acho auspicioso tomar suco de uva de manhã. De manhã, bebo café. No lanche da tardinha, quando chego do trabalho, tomo suco. Sou uma mulher conservadora e odeio mudar minhas rotinas. Troquei de sapato, optei por um calçado anfíbio. Parou a chuva. Saí de casa.
Já no elevador, percebi que minha bolsa tava muito pesada e eu não estava satisfeita com minha escolha de 'look repartição'. Voltei pra casa e troquei tudo, até a bolsa. Saí me sentindo baranga do mesmo jeito, mas foda-se também. Agora sim, estava realmente atrasada.
Até que o ônibus não demorou muito e o engarrafamento na Cruz Vermelha tava médio. Duas velhotas arrumaram uma quizila com a cobradora, que também não era nenhum exemplo de boa educação. Normal. Passa mais uma horda de velhos xexelentos na roleta, acho que alguns entraram pela porta traseira, não reparei. Só reparei quando ouvi um pré-barraco dois ou três bancos atrás de mim. Era aquele barraco familiar básico de gente dispensável, dessas que não servem pra nada no mundo, só pra produzir esgoto. Acho que discutiam para decidir quem devia sentar em qual banco. Voltei pros meus pensamentos fúteis e egoístas e eles logo pararam, sentaram espalhados pelo ônibus. Nem eles se aturam. Por que não se matam logo?
Pouco depois levantei pra dar o sinal e descer no ponto de ônibus imundo de todos os dias. Meus olhos bateram num velho de cabelos pintados de avelã, óculos escuros modelo aviador de camelô. Ele comia um sanduíche. Acho que fazia parte da gangue de barraqueiros. Alguma coisa me pareceu familiar. Parei uns isntantes e nossos olhares se cruzaram. De relance, percebi o vulto da velha obesa ao lado dele. Bingo! Puta que pariu, nada pior para estragar uma segunda-feira do que ver meus ex-sogros no ônibus de manhã. Me separei em janeiro de 2001 e nunca mais tido o desprazer de vê-los. Caralho, esses velhos podres ainda não morreram! Ela ainda vai, que nem era tão velha, mas ele já devia ter sido convocado há muito tempo. Ou, pelo menos, parado de pintar os parcos cabelos de avelã!
***
Como sempre digo, a melhor coisa de ser solteira é não ter sogros. Sempre me regozijo de não ter que fazer social com sogra. Fiquei até de melhor humor agora pensando que nunca mais vou almoçar com aquela família maluca.
9 comentários:
Uai! Continuaê.. tava tão bom... adoro ouvir você falar.
Um beijo
Logo o seu ônibus, logo o seu!
Não tivesse subido pra trocar de roupa, hein...
E você falou com os sogros ou fez que "não reconheceu", como eu faria?
meu sogro é ótimo. minha sogra morreu faz 15 anos. então é show de bola.
Idoca, tenho que trabalhar um pouco, né?
Mila, pois é, pensei exatamente isso. Com tanto 497 no mundo!
Juliana, ignorei, claro!
Gueto, minha ex-sogra, a velha gorda, me adorava (ou pelo menos me tratava bem). o negócio era o velho. Eu detestava ele.
do assassinato como uma das belas artes.
Mas e eles não te reconhceram?
Agora quero saber pq vc detestava o velho. CONTA AÍ NUM POST, VAI!
Bia
Gueto, aquela família toda devia ser exterminada. Seria higiênico.
Bia, nada demais. Eles eram o tipo de pessoa idiota que acha que só seu próprio estilo de vida está "certo" e viviam me criticando.
Você deve pensar que vai ficar forever young, ou então morrer nova, porque do jeito que fala das pessoas velhas...Respeito é bom, e elas gostam. AMO o seu blog, mas confesso que esses comentários sobre os idosos me deixaram sem vontade de continuar lendo.
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