Sobre o perder-se
Desde criança eu gostava de andar sem rumo, pra conhecer os lugares, mesmo sem saber onde estava alguma vezes.
Tudo começou num dia q a aula acabou mais cedo e fui à pé pra casa. Vi uma rua e entrei. Fui andando sem rumo até a hora q a aula acabaria. Aí passei a matar a útlima aula algumas vezes ou inventar pra minha mãe q eu tinha um trabalho pra fazer. E ficava perambulando por aí. Tinha especial interesse por locais onde eu nunca tinha ido, como favelas.
Nunca me senti ameaçada e nem tinha medo. Sei lá, hoje mesmo acho q uma menina de uns 10 anos, com uniforme de escola pública, mochilinha nas costas e tênis bamba, andando a esmo com dia claro não chegava a correr riscos, mesmo qndo subia o morro. Tá eram outros tempos, início da década de 80. Se mesmo hj eu não entro na paranóia alarmista de não sair de casa por causa da violência (tudo bem q tb não fico subindo morro de bobeira - mas isso é outra história)) qnto mais naquela época. Nada me segurava naquele tempo. Eu era mó andarilha, gostava de andar pra conhecer minha cidade.
Talvez eu tenha herdado o amor pelas ruas do Rio de Janeiro da minha mãe. Meu pai era baiano de Salvador, mas minha mãe é carioquíssima, criada na rua Paissandu. O grande amor dela é o centro da cidade, as ruas antigas, as construções do tempo do império, as igrejas.
Qndo eu era pequena ela me levava pro centro da cidade pra rosetar a esmo. Ficávamos andando, vendo vitrines, rindo das roupas e penteados dos transeuntes. Depois íamos almoçar com meu pai. Nas nossas andanças minha mãe ía me falando das ruas. O nome, as histórias, as contruções, quem tinha sido o homenageado q deu nome à via, até algumas mudanças urbanísticas de q ela lembrava.
Enquanto comunista católica fervorosa, daquelas q apenas o sincretismo brasileiro produz, ela me levava às igrejas, me contava a história do santo, admirávamos as pinturas, as imagens...e depois pra descontrair assistíamos a missa pra debochar um pouco das roupas das velhas carolas. Só D. Derli...
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