terça-feira, 10 de outubro de 2006

Da arte de ouvir a conversa alheia
Outro dia fui almoçar com minha irmã no centro e resolvemos experimentar outro self service (ou service service, como preferir). Tamos lá comendo e reparo que na mesa atrás dela tem um cara com um cabelo muito esquisito, meio perucão, tipo cheio e comprido demais pro resto do visual dele.
– Teu namorado veio com aquela peruca que te excita.
– Onde? Cadê ele?
– Atrás de você.


Nisso o cara levanta e vai pra outra mesa pra confraternizar com conhecidos. Adivinha? O cara com quem ele foi falar usava penteado de "pega emprestado". Sabe aquele que o cara tá ficando careca e aí deixa uma parte do cabelo ficar mais comprida e penteia por cima da calva pra "disfarçar"? Esse tinha pego emprestado da parte de trás e penteado pra frente, configurando uma franjinha ridícula e muito pouco digna, mas como sempre digo, bom senso e dignidade são luxo para poucos.
"Caraca! Ele foi falar com teu amante. Pôxa, eles não são ciumentos, né?". E a monga dea minha irmã "onde? onde?".

Eis que a uma moça que tava na mesa ao lado se inclina pro nosso lado "É peruca mesmo?". Caralhos, isso é um restaurante ou uma convenção de gente sem noção. Bom, dane-se, afinal ouvir a conversa dos outros não é errado e eu também gosto muito, só que não costumo assumir isso e me meter na conversa. Começamos a discutir se era peruca ou não. A fofoqueira safada da mesa ao lado argumentou "aquele cabelo não combinaria com a o estilo dele, com a idade e a roupa. Só pode ser peruca". Minha irmã lembrou do ex-chefe dela que fez uma espécie de interlace ou peruca colada na cabeça e a parte de cima tinha que ficar maior no começo, até acertar a cor e o tamanho. Eu avalio que também pode ser pra "disfarçar" a emenda peruca/cabelo remanescente. Passamos a tecer comentários sobre o que seria melhor: botar uma peruca lindja daquela ou fazer um penteado de "pega emprestado". Vai ver que ele tava passando o contato do peruqueiro pro cara da outra mesa. Bom, todas acabamos de comer e nos despedimos.

E quem tá na fila de pagar logo na nossa frente? O perucão. Minha irmã não resistiu e chegou perto. "É cabelo!", garantiu. Nossa nova amiga também tava mais à frente fazendo sinais. Ela também tinha concluído que era cabelo e ainda avisava que viu a raiz. Sentenciei "então é só mau gosto mesmo".

Pois é, o mundo é estranho e reparar nos outros e ouvir a conversa alheia também gera sociabilidade!

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