quarta-feira, 29 de novembro de 2006

A Palavra Seda

Desde que cedi à obsessã essa poesianão me sai da cabeça. É uma das minhas favoritas e já postei várias vezes,mas dessa vez estou enlouquecendo de tanto repetí-la mentalmente. O que é pior é que o objeto da minha obsessão, que me obseda e desperta, nunca deve tê-la ouvido e, se ouvisse, não ia entender. Como sempre digo, o mundo é muito estranho.


A atmosfera que te envolve
atinge tais atmosferas
que transforma muitas coisas
que te concernem, ou cercam.

E como as coisas, palavras
impossíveis de poema:
exemplo, a palavra ouro,
e até este poema, seda.

É certo que tua pessoa
não faz dormir, mas desperta;
nem é sedante, palavra
derivada da de seda.

E é certo que a superfície
de tua pessoa externa,
de tua pele e de tudo
isso que em ti se tateia,

nada tem da superfície
luxuosa, falsa, acadêmica,
de uma superfície quando
se diz que ela é "como seda".

Mas em ti, em algum ponto,
talvez fora de ti mesma,
talvez mesmo no ambiente
que retesas quando chegas,

há algo de muscular,
de animal, carnal, pantera,
de felino, da substância
felina, ou sua maneira,

de animal, de animalmente,
de cru, de cruel, de crueza,
que sob a palavra gasta
persiste na coisa seda.

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