domingo, 10 de dezembro de 2006

A gota dágua

O suplício estava perto do fim, mas eu tinha que esperar o carro da redação vir me buscar. Eu tava na rua, na esquina, esperando o bravo piloto vir fazer o resgate da mala. Claro que eu tava de cara emburrada, com a roupa amarfanhada, aspecto de quem mal dormiu, meio desgrenada e com o rosto meio franzido por causa da claridade. Tô eu lá, com uma aparência de meter medo, braços cruzados, revista e bolsa debaixo do braço, maldizendo a minha sorte e minha profissão.

Eis que, de repente, surgida não sei de onde surge uma mulher de uns 50 anos. Tinha aquele cabelo pintado de louro urina e a cara bolachuda. Usava batom cor de rosa, uma blusa verde exército de linho e fedia a talco. Como eu sei o cheiro da bruta? PORQUE ELA ME ABRAÇOU! Sim, amigos.

Não deu nem tempo de empurrar, de sair correndo, de dizer sai fora, sua piranha que eu arrebento a sua cara. Antes que eu entendesse o que estava acontecendo ela me abraçou. Passou os braços no meu pescoço e me abraçou. Eu não me movi, fiquei estática, com os braços cruzados enquanto a infeliz, que por sinal exibia um ofensivo sorriso de alegria indígena, me abraçava.

Logo eu que odeio que desconhecidos me toquem, tenho nojo do toque não autorizado de pele que não é de amigo meu.

Como o mundo é estranho e as pessoas loucas, ela ainda me disse "quem vai trazer alegria ao seu coração é jesus". Sorriu e foi embora. CARALHO! Eu não perguntei nada! Quem disse que eu quero alegria no meu coração? Quem disse que eu permito que jesus, seja lá quem for esse idiota, traga alegria ao meu coração? Quem disse que ele tem autorização? Quem perguntou alguma coisa, sua velha podre desgraçada?!!!!

Continuei imóvel. Ela me soltou e foi. Eu poderia ter dito "vai tomar no cu sua puta velha escrota desgraçada, morra". Poderia ter dito "pau no cu de jesus" ou "jesus de cu é rola, e das grossas". Poderia simples e deliciosamente ter dado uma porrada na cara daquela pessoa sórdida e sem noção. Podia tê-la empurrado no chão e pisado na cara dela pra ver aqueles dentinhos amarelados cheios de sangue. Não fiz nada. Fiquei imóvel pensando como às vezes a vida é horrível e como certas pessoas são mais que dispensáveis ao mundo, são perniciosas. Essa mulher precisa morrer!

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