quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Dia ruim

Fui acordada pelo telefone. Era meu primo mais novo contando que acordou e encontro o pai morto. Pronto, eu tinha que acordar minha mãe pra contar a ela que o irmão tinha morrido. Como é que se faz isso? Era o último dos cinco irmãos dela que ainda tava vivo. Bom, convinha ligar pra minha irmã também. Ai, caralho. Minha mãe e minha irmã são do tipo de pessoa que chora e se descabela. Gente complicada de se lidar. Liguei pro meu cunhado, ele é que nem eu, não nos descabelamos e só choramos quando acaba tudo, acho que ele nem quando acaba tudo. De qualquer jeito sabia que assim que contasse pra minha irmã ela ligaria pra ele aos prantos. Era melhor ele estar avisado.

Optei pela estratégia do telhado. Liguei pra minha irmã e acordei minha disse que meu tio tava passando mal. Tomamos café e eu contei que era grave. Dei os remédios dela e disse que ele tinha morrido. Ela disse que era mentira, que eu tava de "piada". Depois disse que a gente tava querendo enterrar ele vivo, como ela acha que fizemos com o outro tio que morreu há três anos. A gente tava na Bahia quando ele morreu. Ai, caralho, bateu pino.

Nisso minha irmã que já tinha ido pro trabalho voltou. "Olha a brincadeira que sua irmã tá fazendo comigo, disse que o Gil morreu. A Lurdes levou um tombo". Lurdes é a melhor amiga dela, levou um tombo quase um ano quando tava saindo da minha casa. É grave a crise.

Meu tio e meu primo moravam perto da minha casa, tipo uns quatro quarteirões. Fomos lá. Minha mãe falou umas frases desconexas e trouxemos ela pra casa. Meus primos também falavam coisas desconexas. A mulher do meu primo do meio também é do tipo de gente que não se descabela e faz o que tem que fazer. Organizou o funeral em tempo recorde. Deixei minha irmã com minha mãe em casa e fui ao enterro. Não fui trabalhar.

No fast velório encontrei minha primalhada. Cada criatura que eu não via há anos e mal lembrava. Também apareceram tias do arco da velha. Na verdade só tinha os cinco primos, filhos desse tio e uma prima, filha do meu tio que morreu quando estávamos na Bahia e minha mãe teima que foi enterrado vivo. O resto da primalhada é primalhada dos meus primos, por parte da mãe deles, mas como fomos todos criados juntos nos referimos sempre como primos.

Como há muito deixei de freqüentar as festas e não confraternizo amiúde com a família, toda hora alguém vinha alguém me perguntar se eu era a Roberta. Alguns eu não lembrava, mas todos lembravam de mim pelo cabelão. Toda hora era um "claro que lembro de você, era uma menina linda (donde se concluí que virei uma baranga) com um cabelão preto pesado, liso até aqui (apontam pra cintura)". Ok, ok, eu confesso, usei cabelão por uns 20 anos da minha vida, mas cresci, amadureci e me regenerei. Uso um lindo capacetinho curto há cinco anos, após uns outros tantos de cabelo em comprimento intermediário. Será que vou ter que pagar pelo cabelão da infância pro resto da minha vida? Me perdoem, eu era uma criança, esqueçam que usei cabelão! Ah, e não era preto, era castanho escuro meu cabelão da infância.

Pelo menos tava sol.

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