Sexta saí da repartição e fui encontrar com Ana Paula. Fomos ao teatro. Esperando Godot, com o Grupo Armazém, na Fundição Progresso. Não tenho opinião formada sobre o espetáculo.
Saímos da peça e fomos encontrar Kelly&Dani. Rose comemorava aniversário numa casa de samba na Gomes Freire. O lugar, cujo nome eu não tenho a menor idéia, era muito bonito, o repertório do grupo era sensacional e os músicos eram bons. A cerveja tava gelada e a comida ótima. O negócio é que o som era tão alto que fiquei com dor de cabeça. Pra piorar, o serviço era péssimo. A agilidade e eficiência dos garçons beirava o retardamento mental, aliás, por isso não bebi muito – eles demoravam pra trazer outra cerveja. Nunca mais volto lá. Tudo bem, nos divertimos praticando patrulhamento estético.
Na saída o grupo se separou. Kelly&Dani foram pra casa e Ana Paula se jogou num táxi. Fui ter com os cálega de repartição no escritório, vulgo Taberna do Juca. Alguns chopes depois, dois cálega foram embora. Sobramos eu e Mendonça, como sempre. Saideira no Antonio’s? Sempre!
Alguns chopes depois, fechamos o Antonio’s. Fomos andando a esmo e eis que encontramos dois pés sujos abertos. O primeiro, com garrafas penduradas do teto, disse que já tava fechando – sim, ele nos recusou cerveja! No do lado fomos bem recebidos. É um botequim pé sujo, na esquina da Gomes Freire com a Mem de Sá. Tá sempre aberto e há mesinhas de prártico na calçada. Paramos no balcão, távamos lá, falando sei lá o que e chegou um rapaz afro-descendente com um skate perguntando se podia beber com a gente. Ele nos escolheu porque éramos os mais limpinhos do bar e ele tava bolado. Parece que tinha escapado de ser preso depois de sentar uma skatada na cabeça de um gringo. Sem querer, é claro.
Como távamos bebados mesmo fizemos amizade com o rapaz. Ele era uma mala e nós incorremos no erro básico de nos confessar jornalistas. Pura que pariu, bêbado só faz merda. Algumas cervejas depois começou com um papo de “eu, enquanto negro”. Ai, que saco, hein meu amigo. Vai dar meia hora de bunda enquanto negro, vai. Ele falava alto e os outros bêbados, michês, drogados e bizarrinhos do ambiente se solidarizavam de mim e Mendonça e nos olhavam com expressão de pesar. Vi de longe o namorado de um amigo, que na fila do banheiro me sinalizou pra ficar calada e deixar o garoto gritar sozinho.
Mas como vocês sabem, bêbado só faz merda. Continuamos nosso improfícuo debate. Já dia claro, chegou um amigo do nosso novo amigo neuvoso. Esse respondia por uma alcunha pitoresca. Virou nosso novo amigo. Parece que tinha uma festa na casa dele, pra qual ele não tinha sido convidado, então sai pra tomar café da manhã e nos encontrou no bar antes de chegar na padaria.
A princípio sua intervenção foi bem vinda, pois nosso novo amigo tinha ascendência sobre nosso amigo neuvoso. Parece que o jovem havia morado na casa dele em priscas eras. Sabe como é, o mundo é estranho e na madrugada da Lapa todos se conhecem. Só que, como era de se esperar, mais algumas cervejas, nosso novo amigo também se revelou uma mala. Percebemos que já eram 11h da manhã, uma boa hora boa pra parar de tomar cerveja. Então decidimos irmos todos tomar café na padaria e depois cada um ir dormir na sua própria casinha. O jovem neuvoso tava muito neuvoso, então dissemos pra ele vazar.
Como o mundo é estranho, a caminho da padaria eu e Mendonça concluímos que nosso amigo falante pretendia não apenas tomar café conosco, mas também outras cositas más. Pois é, ele tava crente que ia rolar uma menage. Bom, eu não queria dar pra ele e também não quero dar pro Mendonça. Nada pessoal, mas sabe como é. Ele é meu amigo, meu chefe, a mulher dele é minha amiga e onde se ganha o pão não se come a carne. Mendonça, por sua vez também não quer me comer e muito menos queria dar pro nosso novo amigo. Então, porra, que que a gente tá fazendo aqui? Ai, caralho, bêbado só faz merda mesmo.
Num golpe de sorte nosso amigo animado e sexuado concluiu que ia ao banco pegar dinheiro pra comprar cigarros. Rá, fizemos que o esperaríamos numa casa de sucos. Assim que ele dobrou a esquina saímos quase correndo, de mãos dadas, eu e Mendonça e nos jogamos num táxi. Fomos tomar café da manhã em Santa Teresa. Ufa, estávamos a salvo.
Lá, entre um pãozinho e outro, rememoramos nossa noitada exótica. Eis que toca o celular de Mendonça. “Porra, quem te liga uma hora dessas?”. Era a mulher dele. Eram 11h30 da manhã. “Eu não tô bêbado. Claro que eu tô bem. Dormi. Não, não. Fui tomar uma cerveja com a Roberta. Ela tá aqui, fala com ela”. Me passou o celular. Bom, eu posso Ter fama de muita coisa, mas fura-olho de amiga não sou. Ela só queria saber se ele tava bem. Acho que ela ficou descansada quando soube que ele tava comigo. Vocês acreditam que uma outra amiga minha uma vez viajou e pediu pra eu levar o marido dela (na época ainda namorado) pra passear pra ele não ficar tristinho? Pois é. Pior foi que eu levei ele pra pista comigo.
Resumo da ópera: a noite de sexta terminou ao meio-dia de sábado.
Moral da história: separa eu e Mendonça nas noites de sexta e, principalmente, separa a gente da cerveja.
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