Sábado
Era outro dia de muitas festas. À tarde, fui a uma festa infantil, daquelas de meio-dia. Na verdade era aniversário de uma amiga minha, mas a festa era da filha dela, que tinha feito cinco anos durante a semana. Depois de comprar o mimo da pequena em um shopping próximo, tomei um carro de praça no ponto, achando que chegaria ao meu destino de maneira rápida e segura. Rá!
– Boa tarde, o senho me leva na rua xxx, aqui mesmo na xxxx – disse me acomodando no banco e arrumando a sacola do presente.
Silêncio.
Olho pra frente e o motorista está sorrindo e me estendendo um bloco e uma caneta. Ele era deficiente auditivo, digamos assim. Ok, escrevi o endereço e ele não entendeu minha letra. Caralho. Escrevi de novo e ele fez mímicas que não conhecia. Mostrei a indicação que a dona da festa tinha dado. Ele riu com cara de "Agora sim", e tocou o carro.
Entramos em uma famosa rua e ele pára o carro. Faz mímica de "E agora?". Sou um azougue pra compreender mímicas, então entendi que ele não sabia se era à direta ou esquerda que deveria dobrar. Melhor ainda, ele queria que EU pedisse informação na rua. Sensacional, mas ainda melhora: o vidro não baixava. Depois de eu conseguir atrair a atenção de um ciclista meio que gritando pela janela da frente ouvi do bruto "nunca ouvi falar". No limite do choro e do riso, liguei para um nativo do bairro. Ufa, ele explicou como chegar lá e ainda descobri que já tava perto.
Eis que o táxi pegadinha chega à esquina da rua, que era pequena, estreita e de paralelepípedos. Prevendo mais alguma confusão, cutuquei o motorista que ia descer ali na esquina mesmo. Acabou a aventura? Claro que não! Ele não tinha troco pra R$ 50. Fez outra mímica e saiu correndo pra trocar o dinheiro. É, bem, não teria sido mais fácil eu, em nível de falante, ter ido trocar o dinheiro? Mais alguns minutos de apreensão e volta a criatura. Peguei meu troco e saí correndo, antes que acontecesse mais alguma coisa.
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