O dia em que afoguei
Eu me afoguei na praia. Calma, nada alarmante, afinal estou viva para contar. Eu me afoguei, não morri afogada. O mar tava mexido e puxando, mas não gosto de ir à praia e não entrar na água e, de qualquer jeito, precisava fazer xixi.
Menina Ju arregou e ficou na beirinha me esperando. Depois de um tempinho na arrebentaçao pra me acostumar com a temperatura, entrei na água toda "garota carioca". Tava uma delícia e fiquei lá feliz, mas me distraí me concentrando pra fazer xixi (eu me ressinto e intimido com a auência de instalações sanitárias adequadas, fazer o que?) e deixei a onda me levar. Quando vi, tava há algum tempo em um lugar onde "não dava pé". E não paravam de vir ondas altas. E o mar não parava de me puxar mais para o fundo.
"Porra, há de vir um ondão que vai me levar. Deixo o corpo solto, tomo um caixotão bonito e vou parar na areia. Beleza". Nada. Vinham ondas altas, uma atrás da outra, mas nada de uma que levasse pra arrebentação. Comecei a ficar cansada - como todos sabem, eu não sei nadar. "Caralho, Roberta. Não pode ficar nervosa. Se tu afunda, fudeu". É, tava foda e eu tava ficando cansada. Já tava entrando água em tudo quanto era buraco.
Olhei em volta e havia dois rapazes conversando há uns dois metros de mim. "Caralho, Roberta, mó mico pedir ajuda. Tu não se garante não, porra?". Bom, como orgulho não serve para nada e, mico por mico, é melhor pedir ajuda a dois belos espécimes masculinos do que sair na redinha do helicóptero do Salvamar.
– Ei! Oi! Com licença, estou me afogando, eu não sei nadar e não dou pé aqui. Vocês podem me puxar praí? – sorri e estendi a mão.
Um dos rapazes veio correndo (nadando), segurou minha mão e me puxou pra onde tava o amigo dele.
– Você tá legal? Quer que eu te leve na areia?
– Não, tudo bem, vou sair que fiquei cansada. Era só que eu não dava pé ali e não conseguia sair.
– Tem certeza?
– Tenho, obrigada, você é muito gentil.
Me recompus e saí da água, mantendo a pose. Eles eram belos exemplares de supostos heterossexuais na faixa dos quase-trinta anos, mas não rolava me aproveitar pra fazer amizade: eles me viram em uma situação vexatória!
Menina Ju, que me esperava na beira da água se esquivando das rodas de embaixadinha, me saudou "Aê, tu é meu orgulho, entrou no mar cheio de ondão e ainda fez amizade!".
– Eu tava me afogando, pedi pros meninos me ajudarem.
– Caralho, eu te vi sorrindo pros rapazes e dando a mão e pensei 'Roberta é foda mesmo, já tá fazendo amizade!'.
– Que nada, filha... mais um pouco e eu ia sair desmaiada na cestinha do helicópero...
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