sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O desbunde de Mendonça

Sexta-feira dessas, na verdade daquelas do ano passado, marquei com o Bonitinho tomar um chopinho despretensioso com o casal Mendonça na Lapa. Parecia que ia ser uma agradável noite de novembro, calorzinho gostoso pra encerrar a semana tomando um chope gelado e comendo petiscos, sabe? Parti com meu querido chefinho direto da repartição pra choperia Brazooka. Logo chegou o incauto Bonitinho, com quem eu tava saindo há poucas semanas. Dona Mendonça demorou um pouco e encontrou seu cônjuge algo calibrado, colocado, digamos assim.

Acho que Mendonça não tava nos seus melhores dias. Ou tava em seus melhores dias, sei lá. Dona Mendonça diz que ele fica mais exibido na minha frente e, por isso, tava fazendo vergonha. Sei que o bruto tava com o diabo no corpo, atacado. Ensaiou vários espetáculos circenses e, depois de tomar uma chamada da patroa, deu um chilique, levantou e foi embora. Fez o número do ofendido. Comentamos a performance, ela disse que no dia anterior ele estava um ótimo e calmo Mendonça, pedimos a conta e acompanhamos a pobre até o Mendonça Móvel. Ela foi pra casa com um pouco de vergonha, mas não muita porque sabe que eu conheço bem a peça. Até aí, nada de muito estranho.


Não lembro bem se távamos indo embora ou pra outro bar, mas quando eu e Bonitinho passamos na porta do Antonios quem estava lá, desgrenhado e amarfanhado, sentado em cima de um barril de chope, discursando com uma tulipa na mão? Mendonça, o próprio. Parecia que ele havia sofrido um grande baque, um choque psicológico, um desbunde mesmo e discursava para a juventude transeunte da Lapa às 4h da manhã. Nada de muito estranho.

- Mulher gosta é de pica! É... é isso aí! Mulher gosta é de pica! Não adianta você ser um poeta, um intelectual. Se não tiver pica, ela te deixa!

Pobre Mendonça, teve que viver 37 anos pra descobrir que mulher gosta de pica. Ele podia ter me perguntado que eu teria contado a ele. Algo assoberbado, algo indignado, ele cutucava o pobre Bonitinho, para que este aprendesse a lição. “Ó, se você não comer ela direito ela vai te largar!”. Bonitinho, sorriso amarelo, meneava a cabeça.

- Ele te come direito, Roberta?
- Isso não é da sua conta, Mendonça.
- Cara, mulher gosta é de pica, viu? Aprende isso, mulher gosta de pica!

Como Bonitinho, sábio, não disse nem que sim, nem que não, muito pelo contrário, ao clarear do dia Mendonça sentenciou: “Gostei dessa jaca. Gostei dele, gostei do garoto. Gostei mais dele do que do capacete. E olha que eu gostava do capacete. Eu implicava com ele porque gostava dele. Mas gostei mais de você! Ele é mais legal, tem mais postura, mais opinião própria, é mais homem. O capacete era um garoto”.

Pobre Bonitinho, comparado a algo ou alguém que respondia pela alcunha de capacete. Se bem que não sei se é melhor ser chamado de capacete ou de jaca, mas vindo de Mendonça, quase nada me surpreende. Não sei porque submeto os Bonitinhos ao Mendonça, devo ser sádica. Pelo menos, dessa vez, ele não perguntou a profissão, idade, time, escola de samba e compositor favoritos.

Mendonça aproveitou que ninguém o contrariava e retomou o fio da meada.
- Mulher gosta é de pica. Não adianta ter grana, ler, ser culto, ser... se você não der pica... você tem que comer a mulher que nem um jegue.

Olha, sobre isso não possuo opinião formada, pois nunca assisti a uma cópula entre jegues, mas também não contrariei o caboclo, afinal, ele é meu chefe.


Quase 7h da manhã, dia claro, céu azul, garçons lavando a calçada e querendo levar embora o barril de chope onde Mendonça havia se aboletado. Para meu alívio, chegaram dois bêbados conhecidos de Mendonça. Um deles queria me tirar pra dançar (!). Como Mendonça tinha companhia, eu e Bonitinho nos despedimos. Mendonça perguntou se ele ia me comer, mas Bonitinho explicou que ia viajar a trabalho dali a algumas poucas horas (adoro homem que vira a noite bebendo comigo tendo que trabalhar de manhã), ia pra Vitória do Espírito Santo! Mendonça não poupou reiterar o conselho “Olha lá cara, mulher gosta de pica... se você não der pica ela te larga...”.

Depois daquela noite Mendonça nunca mais foi o mesmo. Nunca perguntei que traumáticas experiências o levaram a tão bombásticas conclusões.



A repercussão do desbunde de Mendonça

Contei a Ana Paula que Mendonça estava obnubilado por ter descoberto que mulher gosta de pica.

- Ah! E ele achava o que? Que a gente gostava de xoxota?!

Pois é.

Nenhum comentário: