terça-feira, 26 de agosto de 2008

Meus Noivos

Conheci HV em 2005, por intermédio de Vicente Magno Preto, pobre e suburbano, vulgo vicente-vem-dar-o-cu-pra-gente. Então ela era namorada do melhor amigo de Vic e gerente de uma clínica de estética no Jardim Botânico luxenta e necessitada de uma assessora de imprensa. Vic me indicou e fui lá conversar. Conheci HV e nos tornamos amigas de infância instantâneas. Sabe identificação imediata? Pois é. Acabei trabalhando com eles por pouco tempo, porque tirando ela, que também não esquentou cadeira, era uma gente doida demais (no mau sentido) pro meu gosto. O que interessa é que somos amigas pro resto da vida.

Eis que, passado um tempo, conversando percebemos que nós duas estávamos a procura de um apartamento. Por que não dividir? Imagina que alegria, morar com um amiga divertida, com quem partilho código ético e estético. Imagina, teríamos uma amiga amada com quem se aconselhar no quarto ao lado e cada uma teria suas roupas, sapatos e adereços multiplicados por dois, afinal o que é de uma é da outra! Rá! Tínhamos até em mente onde seria consumaríamos nossa união para sermos companheiras inseparáveis na alegria e na tristeza: o ap de um amigo em Santa Teresa que tava pra se mudar. Mas como ele ainda ia demorar, passamos a buscar outras opções. Como íamos dividir ap, morar juntas, passamos a dizer que éramos noivas. Sim, somos pândegas, daí noivamos.

Conheci Mendonça em 2002, como cálega de repartição: éramos repórteres na mesma pocilga. Em uma versão barnabéica do Feitiço de Áquila, ele abria a redação e eu fechava. Raramente nos encontrávamos, quando acontecia era um oi/tchau na portaria se ele estivesse saindo mais tarde ou eu chegando mais cedo. Mesmo pouco nos vendo, logo percebemos que tínhamos mais em comum do que ter nascido sob o signo de peixes e feito a má escolha na profissão. Como Mendonça diz "tenho uma ligação espiritual com essa mulher". Ele veio com essa quando veio tomar satisfações comigo após ver meu ex-namorado andando na rua. Ele não sabia que tínhamos terminado, mas intuiu ao vê-lo, nas palavras de Mendonça "cabisbaixo e macambuzio. Mendonça nunca se conformou com o rompimento, levou uns dois anos para superar o trauma dessa separação.

Em em 2005 comemorei meu aniversário no Dama da Noite, uma casa de samba na Lapa que nem existe mais e o casal Mendonça foi. Fiquei agradavelmente supresa por ele ir, o único do trabalho (além de Nara, mas ela não conta). Lembro que achei Dona Mendonça tão bonita e simpática, com um cabelão cacheado e um sotaque baiano encantadores. Pouco depois eles deram uma reunião em casa, acho que era um escondidinho ou coisa que o valha, e somente eu e o tal ex-namorado fomos. Foi ali que Mendonça se encantou por ele. Até hoje ele diz que não aceita nenhum namorado meu, porque nenhum deles é o Ex. Na opinião dele, o único homem que me merece, o único digno de Marilda. Durma-se com um barulho desses.

O tempo passou e Mendonça se tornou o chefe da repartição e meu chefe. Ficamos cada vez mais próximos, quase amalgamados. Eis que, ano passado, o casamento dele passou por uma crise. Como queriam continuar juntos, Dona Mendonça sugeriu que morassem em casas separadas e namorassem. Segundo ela, foram morar juntos logo que se conheceram e quase não namoraram. Daí ela teve a grande idéia: "Vai morar com a Roberta, divide apartamento com ela! Vocês se dão tão bem, vai ser perfeito!". Lembro que ao saber da novidade, a sábia Nara resumiu "Ah, muito tua amiga ela, hein? Ela fica com o pau e tu com o homem bêbado de cueca roncando no sofá?". Mendonça, mal instalado no apart hotel vizinho ao solar da família, relutou, mas acabou aceitando. Daí viramos noivos, já que iríamos coabitar.

Houve quem receasse que, com a convivência, acabassemos mantendo conjunção carnal. Tanto eu quanto o casal Mendonça e quem nos conhece bem jamais receou isso. Conforme preconiza nosso amigo Dionei Samambaia, Mendonça e eu não transarmos sexo um com o outro (nossa ligação é espiritual, saca? Acima dessas coisas mundanas). Além do que, assim que Mendonça me visse sábado à tarde com a cabeça cheia de creme de massagem por baixo aquela touca plástica recheada de bolinhas de isopor, a cara cimentada com máscara de lama termal e a barriga, bunda e coxas besuntadas de gosma verde, a qual chamo de gel redutor, enroladas em filme PVC... pois é, meus amigos. Não tem pau que suba depois uma cena dessas. Tá certo que o resultado desse esforço estético-lamacento todo é até satisfatório, mas quem vai consumir não precisa conhecer o processo de preparo. É justamente a convivência e a intimidade que acaba com qualquer tesão, esqueceram disso?

Enfim, claro que isso não ia dar certo mesmo, pois estávamos ainda procurando apartamento e ele já começava a implicar "Ó, não quero encontrar teus machos bebendo minha cerveja. Ó, não vai levar jaca pra comer em casa". Eu retrucava que não queria ver cueca suja no chão do banheiro. Quase alugamos um apartamento lindo em Santa Teresa, mobiliado, com várias varandinhas e até uma lareira na sala. Generoso, Mendonça deixou eu ficar com o quarto maior. Talvez tivesse sido uma convivência feliz, mas nunca saberemos. O negócio, quase fechado, desandou. Mas o negócio é que Mendonça, queria mesmo era voltar para casa, então a partir daí só arrumava muquifo pra gente ver e nunca gostava dos apartamentos que eu arrumava. Para malograr de vez com o projeto, resolvemos que, se eu tinha uma noiva prévia e agora um noivo, íamos morar os três juntos num menáge amigável. Houve quem se apavorasse em imaginar a casa que abrigaria Mendonça, Marilda e HV, mas de qualquer jeito isso jamais se concretizou por um motivo muito simples: não há oferta de apartamentos para alugar com três quartos em condições habitáveis na região do Centro, Lapa, Santa Tereza ou Glória, nossa região favorita. Só tinha muquifo, caverna do conde drácula, câmara mortuária dos zumbis e coisas parecidas. Nisso, Mendonça fez valer sua lábia e reconquistou seu lugar no leito conjugal. Assim foi desfeito nosso compromisso, mas continuamos amigos.

Ainda procurei apartamento para dividir com A Noiva por um tempo, mas aí ela ficou desempregada por um tempo e abortamos a missão. Como minha mudança urgia, acabei sendo feliz no meu studio, de onde pretendo sair daqui a um ou dois anos, para um apartamento maior no Largo do Machado. Mas isso é assunto para o outro post, aquele onde contarei do PAC Carvalho.

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