Quase 22h, conseguimos liberar o corpo e sair do hospital. Deixamos a repórter em casa. Ainda atordoada, a pobre ficou lá com a gente o tempo todo. Nunca vou esquecer o rosto dela quando eu contei que ele tinha morrido. Eu disse "Julia, eu tô me sentindo culpada, eu que arrumei esse emprego pra ele" e ela "Roberta, e eu que pedi pra fazer outro caminho?". Nos abraçamos e choramos discretamente, para não ofender a dor legítima da família.
Passamos na repartição pra pegar copias dos documentos do rapaz e fomos pro IML. Outro périplo burocrático sem sentido. O corpo tinha chegado há pouco, mas se não houvesse sei lá quais documentos, só seria liberado no dia seguinte. Precisavam de um parente direto, pai, mãe ou irmão. Nos entendemo, mas não vamos esperar nem vamos trazer a família. Eu sou a tia.
O cara que me atendeu na parte de dentro do prédio era algo entre idiota, trincado ou alienígena. Fungava e coçava a barriga. Não entendia o que eu dizia e perguntava a mesma coisa três ou quatro vezes. Queria a minha certidão de nascimento pra conferir a filiação e sobrenomes. "Você não entendeu ainda? Nâo sou parente direta, não tenho o mesmo sobrenome dele". "Você casou com o pai do falecido?". "Não, minha irmã casou". "Então você casou com o falecido?". "Não, o pai dele é meu cunhado". "Então você não é tia dele". "Não, eu te disse isso logo que cheguei".
Aí ele decidiu que precisava de uma cópia da minha carteira de identidade. "É preciso realmente? Sou funcionária pública federal, não saio por aí roubando cadáveres em IMLs". "É preciso", foi taxativo. "Então vou buscar em casa, moro aqui perto". "Não é mais fácil a senhor tirar uma cópia aí fora?". "Moço, são meia-noite de sexta-feira. Onde eu vou arrumar uma máquina de xerox? O senhor pode tirar pra mim aí?". "Aqui não". Fui em casa buscar a cópia do documento. Ele levou uma hora pra preencher um formulário idiota com os dados do falecido e os meus. Eu levaria 15 minutos pra fazer aquilo. Terminada esta tarefa, era a hora do reconhecimento. Mendonça me poupou desta. Ele disse que sabia que era o Ronaldo, mas que não reconhecia o rosto sem vida.
Agora só restava esperar o agente funerário. "Quero uma cópia do crachá do agente funerário". "Moço, onde vamos arrumar isso a essa hora?". "Tem que ter, ele sabe disso". "Ele sabe, mas foi uma emergência". Foi o agente funerário pela noite da Lapa tentar tirar uma cópia do crachá. Voltou meia-hora depois sem ter conseguido. Após um resmungo, o barnabé se conformou "então tá, me traz amanhã". Fomos nós no estacionamento outra vez. Ele calçou luvas e foi transferir o corpo pra van da funerária. Virei de costas. Nisso, chegou Alex, o melhor amigo do pai do rapaz, que iria até a funerária cuidar desta etapa. Entregamos a ele os documentos e pertences, inclusive o crachá ensanguentado.
Como Alex assumiria daí pra frente, eu, Mendonça e Dona Mendonça, fomos comer alguma coisa e tentar nos embebedar, pois era a única coisa que nos restava. Já eram duas da manhã.
2 comentários:
putz, esses caras são uns escrotos, é só pra conseguir dinheiro.
barnabé sempre barnabé
uma bosta
mas tudo passa amiga, até a uva passa, a banana passa, só não passa táxi nas ruas de minha cidade
que saudades do rio
aqui prefiro andar apé do que esperar por um miserável tx
bjs Rô
gigi que te ama e se quiser te esquenta debaixo das cobertas
mas sem gatins
rerere
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