Perco a hora todos os dias. Na verdade, acordo até antes do despertador, mas não tenho forças pra sair da cama. Olho pro teto, choro e praguejo. Digo 'hoje não vou trabalhar, foda-se', mas acabo levantando e indo. Atrasada, é claro. Meu corpo dói como se eu tivesse apanhado, sinto pena de mim por ter que ir trabalhar e ódio da repartição por ser um matagal mal localizado que funciona de 8h às 17h. Já não tomo mais café da manhã por preguiça, depois teria que lavar a louça que sujasse.
Daí vou pro trabalho chorando no ônibus por trás dos óculos escuros. Subo aquela ladeira contando quanto falta pra eu me aposentar e torcendo pro prédio pegar fogo, pra eu ficar uns dias sem ir. Quando chega lá nem dói tanto, porque meus cálega são até divertidos. Tá, alguns são sórdidos e/ou maldosos, mas faço cara de plantação de coqueiros para esses pensando 'cagueiê' enquanto eles falam. Adoro a expressão 'caguei'. Resume tudo. Caguei.
Reparar nos sapatos sempre distrai também.
Sinto dor de sono e vontade de chorar o dia todo e mal consigo pensar de tanta vontade de dormir. Sempre me sinto tentada a me trancar no banheiro, sentar no trono com a tampa abaixada e tirar uma soneca, mas tenho medo de chapar e cair. Ia ser mó mico. Sem falar que lá tem pouco banheiro. Tenho que arrumar um esconderijo pra dormir. Na verdade, quem vai trabalhar é uma panqueca sonolenta. A Roberta tá em algum lugar do espaço-tempo dormindo.
Depois do almoço podre melhoro um pouco e até consigo concatenar frases que façam sentido. Lá sou simpática, sabe? Eles nunca viram a Roberta intragável de outros tempos. Ainda não dei um fora bom em ninguém, não mandei o melhor do manual grossila, ainda não disse 'caguei' ou 'se vc me encher o saco eu arrebento tua cara'. E olha que já trabalho lá há um ano e meio! Ainda faço pinta de educada. Talvez esse tenha sido meu erro, devia ter chegado mandando todo mundo tomar nos seus respectivos cus. Sei lá.
Nara e Camila nem me reconheceriam. Devo estar ficando velha. Pior, acho não é questão de ficar velha não, acho que apenas nem pra ser escrota eu tenho ânimo. Caguei tão bem cagado, enchi tanto o saco que não sobrou nem pra mandar tomar no cu. Aquele lugar suga minhas energias, minha força, minha vida.
As horas se arrastam, mas finalmente dá 17h e sou alforriada, até o dia útil seguinte, claro. O inferno não tem fim. Daí vou praquele ponto de ônibus fétido me acotovelar com gente feia pra entrar no ônibus. Em dezembro é pior porque tem mais engarrafamento. Venho no ônibus me sentindo idiota e suja.
Depois disso tudo, todos os dias, vocês ainda querem que eu saia? Vou é me trancar na minha casa, que é limpa, cheirosa e arrumadíssima. Tudo perfeito, porque eu mereço.
6 comentários:
Sei como é isso... passei por isso 3 anos da vida, porque estava num lugar grande e que pagava bem.
Domingo as 17h já começava a deprê de ter que voltar pra lá.
Até que eu não consegui mais nem ler emails. Lia, relia e nada entrava na cabeça.
Num dia tranquilo, me pediram um negócio normal de trabalho e eu virei o Hulk. Depois pedi demissão.
Hoje estou numa empresa menor, ganhando menos mas tão tão feliz!
Desculpa pentelhar com um depoimento desse tamanho... mas essa dor que tu tem eu senti tão forte e é tão recente, que não consegui ficar calada.
"mal consigo pensar de tanta vontade de dormir."
Somos duas.
Você escolheu ir pra esse trabalho...
Fala a verdade... isso td é saudade do Mendonça!!! rs
Oie Roberta!
Primeira vez que posto.
Gosto da sua sinceridade exagerada!
Sugestão: Procura um novo emprego, gata, enquanto ainda está nesse, claro!
Novas perspectivas, novo gás, novo ânimo!
Experiência própria. rs
Eu ainda talvez seja pior pq por incrível que pareça TODOS depois de 2/3 anos me deram tédio, melancolia e um deles depressão!
Up, garooooooota!!!!
NOssa,Eu tenho 28 anos...as vezes me sinto assim...
Mas meu medo maior é chegar a sua idade e ser exatamente como você é..Mau amada..Mau humorada!Deus me livre!
Amém!
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