sábado, 13 de novembro de 2010

Relatório de sexta

Fui ao Baile do Baleiro no Lapa 40 Graus. Encontrei amigos, cantei, dancei, bebi e ri muito. O que é o amor, né? Só meu amor por Zeca Baleiro pra me fazer colocar os pés naquele lugar medonho. Uma das maiores concentrações de gente feia e mal educada por metro quadrado que já vi. Mas abstraí o rebotalho da humanidade pisando no meu pé e a grosseria do atendimento e me diverti, afinal, era o Baile do Baleiro.

Do Baile, dei o braço pra Madame Lobato e Pour Elise e fomos pra Lapada. Dei o braço literalmente, porque quando a gente soltava, Pour Elise caía no chão. No caminho, encontramos Eugenia&João, que queria me pagar a saideira no Gomes. "Não queridos, obrigada! Tô indo pra uma festa gay comer uns cus". Os dois, acho que tão alcolizados quanto eu, começaram a pular e bater palma na esquina da Gomes Freire com a Mem de Sá gritando "comer cu". Coisas de madrugada de sexta-feira na Lapa.

Seguimos pra Rua do Resende. Mal entramos, Pour Elise, espertíssima, tirou as sandália de salto alto e entrou num sanduíche com duas bibas. Super colocada, digamos assim. Mme Lobato também tava sendo apalpada e dando selinhos nas bibas perto do bar. Eu, debutante na festa, fiquei perto da parede dançando, observando e sorvendo os drinques variados que me chegavam.

Olha, viado é tudo né? Nenhum bofe ama o feminino como os gays. Eles nos apalpam, admiram, elogiam com verdadeira admiração e lascívia. Não me deixam pagar nada "Você é uma dama, damas não pagam!", elogiam minha aparência, apertam meus peitos e minha bunda e ainda me dão bitoquinhas.

Mas lá pelas tantas vencemos o prazo de validade e resolvemos sair. Mme Lobato, ao ver um táxi parado na porta, exclamou "Um preto velho! Vamos com ele!". Sentei no meio fio com Pour Elise que, fumando, lamentava a injustiça da vida. "Poxa, acho mó preconceito. Eu também tenho cu, por que ninguém me pega?". Tem cu mas não tem pau, né amiga. Ia ficar faltando alguma coisa. Enquanto isso, Mme Lobato tomava aconselhamento sentimental com o taxista. Sentada no banco da frente, pés sobre o painel e cigarro na mão, expunha suas agruras de moça solteira que se apaixona todas as noites de sexta e sábado.

De repente nos tocamos que podíamos fumar no táxi, não era necessário fumar na calçada. Viva os taxistas pretos velhos conselheiros sentimentais e a favor da liberdade de escolha da noite da Lapa! O carro de praça deu a volta no quarteirão e desci na porta do meu prédio. Nisso vejo um torpedo do meu amigo Vinícius, que tava na Casa da Cachaça. Liguei pra ele. "Tô indo aí tomar uma saideira com você. O porteiro abriu de novo o portão pra mim e deve ter pensado "Dona Roberta voltou aos bons tempos".

Encontrei Vinícius desolado parado na esquina da Gomes Freire com a Mém de Sá: havia acabado a cerveja na CC. Chegaram a baixar as portas. Olha, eu não via a Lapa fervilhar daquela maneira desde o carnaval. Além do Baile do Baleiro, tinha Belle&Sebastian no Circo e Mombojó+Móveis Coloniais+Fino Coletivo+Orquestra Voadora na Fundição. Acho que ontem a Lapa era a maior centralidade de bêbados do Rio de Janeiro. Pela primeira vez na vida vi acabar a cerveja e a CC ter que baixar as portas diante de hordas de bêbados ávidos.

Atravessamos a rua e fomos beber no Passarela, aquele botequim muquifento azul do outro lado da rua. Pegamos uma skol tépida, mas aquela hora era o que havia, e sentamos no meio fio pra apreciar o povo e seus costumes passando pela manhã chuvosa da Lapa. Começou a chover forte pra caralho e respingar na gente. Pouco depois do amanhecer, a CC levantou as portas de novo. Deve ter chegado cerveja.

Empapuçados, desistimos de continuar nos embriagando com cerveja quente e fomos tomar café da manhã na padaria do rodízio de pão na chapa. Com a mesma mão que bati a bunda cheia de terra ao levantar, parti os pedaços do meu pão pra chupar até derreter, já que não estou apta à mastigação. Para ajudar a desmanchar o pão, ia sorvendo minha xícara grande de café com uma nata de gordura boiando. Ai, como é bela e saudável a vida da boemia!

Alimentados, caminhamos até minha casa de braços dados sob a chuva. Vinícius é moço educado, sempre me traz em casa. Já tinha mudado o porteiro. Nos despedidos e ele foi pra casa tentar dormir um pouco, porque tinha um casamento vespertino na Baixada para ir. Dormir é para os fracos, por isso também me ufano dos meus amigos.

Subi, tirei a maquilage da cara, vesti minha camisola de bolinhas, tomei um copo de coca zero com um rivotril, fechei as cortinas novas e chapei até umas 4h da tarde de hoje. Há pouco, enquanto fazia xixi, reparei que ainda tem lama no meu dedão do pé direito. Vou tomar banho enquanto a lasanha congelada tá no forno.

8 comentários:

carolina disse...

foda.

roberta carvalho disse...

A vida é bela, Carolina.

Tam disse...

maravilha, tenho que sair com voce um dia (quando eu estiver no Rio)!!

Taísa disse...

faço minhas as palavras de PipsyPops...

Anônimo disse...

Quer dizer que pode tomar Rivotril depois de encher a cara ??? Vc mudou minha vida !

Eugenia disse...

"Não queridos, obrigada! Tô indo pra uma festa gay comer uns cus"! Achei q vc se esqueceria dessa frase épica! Haha! Amei te ver!

Renata Saintive disse...

faço minhas as palavras de PipsyPops...

roberta carvalho disse...

PipsyPops, Taísa e Renata, venham!

Anônimo, dã!
Poder a gente pode tudo na vida, xuxu. Só que tem que aguentar o tranco depois, saca? Eu banco meus desejos, inclusive o do rivotril com a cara cheia. ;-)

Eugenia, tb achei que vc ia esquecer! Foi uma noite memorável!