quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Alegrias da repartição

Como vocês sabem, o mundo é estranho e eu fui trabalhar numa repartição instalada em um matagal no meio de um mar de favelas. Os detalhes do processo decisório que me levou a tomar posse em tal cargo não vêm ao caso no momento. Sim, assumo a culpa, mas confesso que jamais planejei ir trabalhar lá. Mas, como dizem por ai, de boas intenções o inferno tá cheio. Vamos ao que interessa.

Dia desses, tava voltando do almoço com Palhares, meu distinto chefe, e o colega A.M., chefe substituter Tabajara, digamos assim, o segundo na linha sucessória. Eis que, ao chegar ao sopé da ladeirota pedregosa e mal cuidada que nos leva à nossa triste seção, olho para o lado direito e vejo uma obra no muro que separa a repartição da Avenida Brasil. Animada, exclamei que finalmente tavam fazendo o novo portão de pedestres. Desde que mudaram o ponto de ônibus de lugar, há alguns meses, nossas vidas de cornos infelizes ficou mais desgraçada e andamos como cornos filhos da puta para entrar e sair. A lépida e sagaz direção da repartição só percebeu que ia ficar uma merda pra entrar e sair quando o ponto foi inaugurado. Mas claro, defendeu-se! Afinal, inauguraram uma semana antes! Safados esses cabras da prefeitura, nem deram tempo deles perceberem que os funcionários iam se tomar no cu sem prazer no acesso ao trabalho!

Mas então, vocês compreendem minha surpresa quase alegre ao ver a obra do novo portão, afinal, em uma repartição tão eficiente, achei que era balela e que ia me aposentar antes da obra ser iniciada. Palhares não perdoou meu deslize de otimismo e chamou atenção à minha desgraça. Como é que a gente chega aos 40 anos e fica feliz com uma merda de um portão? Será que eu me imaginava assim aos 20? Que eu faria da minha vida aos 20 se me visse assim? Provavelmente me mataria. Me olhei e vi que realmente eu tô na merda, parecia uma capiau.

Palhares me zoa até hoje, perguntando se quero ir ver a obra e me imitando ao falar com sotaque caipira "Oia, gente", com as mãos na cintura enquanto masco um imaginário capim no canto da boca.

2 comentários:

nuno medon disse...

olá, coisas simples e pequenas, por vezes fazem-nos mais felizes do que qualquer outra coisa.

Vanessa disse...

Tomar no cu sem prazer é otimo. Melhor do que o vai tomar no cu tranquilo q eu li outro dia. Bjs.