Mas por que eu tava falando disso mesmo?
Ah, tá. Porque outro sinal, esse mais desagradável, de que estou ficando velha, apesar de continuar sendo uma jovem interminável, é que estou perdendo a resistência aos porres, sucumbindo à ressaca. Elas são mais freqüentes, implacáveis, profundas. Claro, desnecessárias. Digo isso porque estou acabando de me recuperar de mais de 24h de ressaca. Pior, nem sequer bebi tanto assim.
Sexta acordei cedo pro meu gosto. Acordo cedo às sextas porque é meu dia de ir À Dentista (novo personagem coadjuvante do elenco de apoio da minha vida) ficar mais pobre, porém com um sorriso mais lindo. Dói mais ainda porque já acordei cedo pra caralho na quinta, que o dia da minha aula (em nível de ouvinte) no doutorado. Pedro diz que não sabe porque eu, morando na capital, inventei de estudar no interior, mas fato é que sou ouvinte na UFF, afinal, porquê é coisa que não existe. Resumindo a ópera, sexta à noite costumo estar um bagaço.
Essa sexta eu acordei cedo e cansada como sempre. Não tinha NADA, nem pão duro, pra comer. Pensei "tomo café na padaria". Na rua lembrei que tava indo ao dentista e não tinha levado escova de dentes na bolsa. Como não convem chegar com os dentes sujos, tomei só um café expresso.
O, na verdade A Dentista, estava atrasadíssima porque tinha pintado uma emergência. Esperei pra caralho, e caralho grande. Saí em cima da hora e ainda tinha que passar na oca de uma amigo no caminho pra entregar "um volume". Cheguei no trabalho em cima da hora, mas parei pra almoçar meio correndo.
A repartição tava bombando, nem lembrei que gente come. Água e café toda hora. Ganhei duas mariolas de presente da editora da intranet, ela sempre me traz mimos comestíveis, muito gentil. Esqueci de comer de verdade. Quase no fim do ixpidiente percebi que tava com fome, mas como trabalho em um puxadinho no meio do mato, não havia o que comer. A secretária freak, sempre eficientíssima, me descolou meia dúzia de bolachas.
Da repartição rumei pro Escravos da Mauá. Mal chego e com quem dou de cara? O Tártado Mongol! Não podia prestar. Fomos bebendo, os amigos chegando, a cerveja tava gelada, o samba tava bom, o Tártaro Mongol pândego como sempre... Comi um salsichão, bebi mais. O Tártaro Mongol foi embora porque o último ônibus pra Santa Teresa sai às 23h30. Fui pro meio da muvuca sambar. Bebi mais.
Sei lá que horas, não muito tarde, o primeiro grupo resolveu ir embora. Como tinha uma carona muito pertinente resolvi ir. Mal saímos pedi pra parar o carro. VOMITEI. Seguimos. Mal chegamos na Lapa pedi pra parar o carro, desci. VOMITEI. Sei lá, mas ainda vomitei muito. Dormi vestida e sem escovar os dentes. Não tava bêbada, mas tava passando muito mal. Cara, bebi, mas não tomei nem 10 latas e mesmo assim dividindo com as meninas. Fichinha em dias normais. Pois é, mas VOMITEI.
Acordei com TODA a dor de cabeça do mundo. Ela me acompanhou até hoje à tarde. No casamento ainda rebati com uma meia dúzia de chopes, mas a sandálida de salto alto, os salgadinhos e brigadeiros não deixaram a azia, a enxaqueca e a sensação de atropelamento recente irem embora assim, fácil.
Como diria O Orientador, tenho 36 anos e sinto cada um deles.
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