O mundo é estranho
Como o mundo é estranho, outro dia fui parar em um angu a baiana em Vila Isabel. Chovia pra caralho e eu não como angu, muito menos miúdos, mas bebo cerveja, daí sabe como é, né?
Bom, como o carioca - especialmente o suburbano - é hospitaleiro, arrumaram um arroz branco pra eu comer com o “caldinho” das carnes. Tá, fedia enjoado como todo o resto, mas como eu já tava colocada mandei ver e ainda achei gostoso. Mas que fede repugnantemente, fede. Depois dos parabéns, cai de boca nas tortas pra rebater o bafo de miúdos cozidos, mas como não sou gorda safada, prescindi dos pudins e manjares.
E as paneladas de angu saindo quentinhas da cozinha a todo instante. E a todo instante que a marola de miúdos me enjoava eu pedia refil de cerveja. E vamos que vamos, com as criança tudo correno pela casa. Engraçado que havia duas vegetarianas na família. “Tô só na torradinha a noite toda”. E era só na torradinha mermo, não tinha nem uma pastinha de soja pra passar. Vem cá, se tu tem duas vegetarianas na família, se você sabe que vai ter convivas que não comem carne como é que tu não faz um prato alternativo? Mas sabe como é, bom senso não é pra qualquer um.
A festa era de aniversário da avó de alguém, aliás, avó de muitos, porque a casa tava abarrotada, com representantes, inclusive interestaduais, de várias gerações da família. Sorte de principiante, fui a única que tirou foto sozinha com a velha. Rá! Claro, também eu não era prima nem irmã de ninguém, quem ia querer sair comigo na foto? Dona Qüem-qüem ainda me chamou para outros convescotes. Sou muito popular, rapaz!
Bom, pouco antes da meia-noite concluí que a missão tava cumprida e comprida e meu prazo de validade em nível de angu tinha vencido. Parti. Cheguei na Lapa com uma fome do cacete, do caralho, do capeta, do que vocês quiserem. Sozinha e semi-alcoolizada, não tava com paciência de sentar na Taberna e pedir meu sanduíche de todos os dias. Fui atrás do melhor churrasquinho da Lapa, aquele em frente ao posto que o cara enfia o espetinho num pote com um “molho”. Deus-que-não-existe me livre e guarde de saber como é feito aquele molho, mas que é muito bom eu garanto. Véspera de feriado, ele não tava. Olha que a Lapa tava vazia mesmo. Acabei comendo um salsichão em uma outra barraca, observando as moscas suicidas dando vôos rasantes sobre os potes dos itens do cachorro quente. Tinha umas manchas no molho rose que não sei se eram passas caídas do pote de trás ou se eram... bom, foda-se, não como cachorro quente mesmo. Abri a vitrine e salvei umas duas moscas. Sabe como é, meu karma anda pesado, tenho matado muito mosquisto lá em casa. Melhor contrabalançar.
Como sempre digo, o mundo é estranho.
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