Péssimo dia
Hoje eu não devia ter saído da cama.
Ontem eu tava morta de cansada e vim pra casa dormitando no ônibus, com medo de perder o ponto. Tinha umas coisas pra resolver, mas tava tão cansada que resolvi ir pra casa. Cheguei volta de 18h, mas pensei "Ah, se deitar agora vou acordar 2h da manhã sem sono". Tomei banho, jantei, vi um pouco de TV e deitei "cedo para os meus padrões". Rá!. Fritei na cama até depois das 3h.
Doeu muito quando o despertador tocou no cu da manhã. Levantei lerda e semi-atrasada. Fui me atrasando mais enquanto me arrumava. Saí de casa já bastante tarde e decidi não tomar café, pra economizar tempo. Comeria um salgado com café numa lanchonete na entrada da repartição.
Claro, quando o dia está para dar errado... tudo dá errado. O ônibus demorou pra sair do ponto, me atrasando mais. Como estava uma manhã ensolarada, aproveitei pra tentar melhorar meu humor e coloquei uma roupa linda. Uma das minhas calças favoritas, uma pantalona gelo, com uma camisa grafite maravilhosa e sandália rasteira ouro velho. A cobradora elogiou "Amiga, vc está linda". Obrigada, querida.
Por trás dos meus óculos escuros imensos, cochilei. Cada vez que acordava pensava "não acredito que essa lerdeza ainda tá aqui". E viagem que segue. Eis que acordo meio assustada e vejo que já estou quase chegando. Epa! Vejo também que tá chovendo. Ei, tá caindo um temporal. Maravilha. Claro que eu não tinha levado guarda-chuva, afinal, estava sol! Maravilha mesmo, afinal caminho uns 20 minutos por caminhos enlameados do ponto até a repartição e estava de calça clara e sandália baixa. Que beleza!
Pensei rápido e desci um ponto antes, na "expansão" da repartição, que fica do outro lado da Avenida Brasil, mas onde a portaria fica mais perto do portão e tem um ônibus-cata-corno que faz a travessia - e um périplo - até o campus do outro lado, onde fica a minha repartição. Rá, claro que foi uma idéia idiota.
Entrei e o ônibus tava parado. Perguntei ao guarda que horas ele ia sair. "Só sai de hora em hora". Tinham passado 15 minutos da hora cheia, logo ele ia levar 45 minutos pra sair de novo! Fui ao banheiro me secar e tentei não pensar muito enquanto não recobrasse a dignidade perdida.
De volta, já recomposta, dei de cara com o guardinha sorridente ao lado de um carro de praça. "A senhora não tá precisando de um táxi?". Eita guardinha esperto! Embarquei rumo ao outro lado da avenida. Me custou R$ 10, mas foi a melhor coisa que eu fiz. Ah, claro, a esta altura a chuva havia parado.
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Felizmente, ninguém me deu bom-dia, pois ia ouvir "Para quem?". Meu mau humor matinal já virou piada na repartição e todos já devem ter reparado que não dou bom dia, digo apenas "Olá todos". Ainda não tenho intimidade, sabe? Na repartição de outrora eu rosnava "E aí, putada?".
Contei minha gincana pra minha vizinha de computador. Li os e-mails e logo era hora de almoçar. É que o pessoal lá agora pegou uma mania de almoçar antes do meio-dia, pra pagar mais barato, já que a comida é uma merda mesmo. Além disso, nosso chefito (precisamos arrumar um codinome pro meu novo chefe, vou pensar) tinha que sair mais cedo porque ia extrair um dente. Aliás, ele tá odontologicamente muito fodido. Pobre de cristo do meu chefe. Um futuro banguelo o aguarda. Como homem é tudo palhaço, ele se conformou "pelo menos já sou casado".
Na trilha pro restaurante alguns assuntos desagradáveis vieram a baila, como por exemplo, como é feliz nossa vida profissional, como estamos satisfeitos e estimulados, otimistas com o futuro e como é agradável nosso ambiente de trabalho. Olha que nem tocamos no tópico sobre como somos bem-sucedidos e remunerados. Pois é. Não foi um bom assunto. Meu estômago embrulhou e trancou. O arroz integral, feijão carioquinha e panqueca não caíram bem. Até abdiquei do café expresso ao final, uma da poucas alegrias da minha estada diária na repartição.
Chefe se despediu na saída e foi ter com sua dentista sanguinária. Retornamos ao aprazível buraco onde ganhamos nosso sustento de moças trabalhadoras, embora não muito espertas, ou não teríamos marcado "jornalismo" quando fizemos vestibular. Claro, isso é irrelevante a esta altura do campeonato.
Sentei na minha cadeira adquirida pela instituição há menos de seis meses, logicamente às expensas do erário, obviamente por meio de uma licitação. A cadeira é uma merda e tá desmontando, como tudo lá. Cada dia cai um pedaço. Animador. Pelo menos o ar condicionado tava no talo. Fiquei olhando pra tela do computador e tava tudo meio embaçado. Respondi lacônica alguns e-mails. Bolo no estômago. Fui ao sórdido banheiro azul-bacia que as faxineiras imundas fazem de escritório e tentei vomitar. Nada. Voltei à sala.
Estômago doído e embrulhado. Conheço bem a sensação de ter engolido um paralelepípedo. Voltei ao banheiro e enfiei o dedo na goela. Lá se foram, em dois jatos quase contínuos, os R$ 12 de arroz integral, feijão e panqueca nojenta que eu tinha comido. Pedações, hein? Preciso mastigar melhor, mas é quase impossível com o aparelho ortodôntico. Alívio. Escovei os dentes e voltei pra sala, afinal, alguma caléga apertava socava a merda da porta. Esperaí, piranha apressada. Ou caga no mato, foda-se.
Sentei de novo na merda da minha mesa, naquele muquifo improvisado e deprimente. Como a sala é apertada e, obviamente, não foi projetada por um arquiteto ou coisa parecida, vivo batendo nas quinas das mesas ao passar. Sim, só se consegue sentar passando de lado entre a minha e da minha valente e perseverante vizinha. Sim, tenho a lateral da bunda e das coxas sempre com manchas roxas. É isso aí, dignidade cada vez mais ralo abaixo.
Eu devia estar verde, porque ninguém comentou nada, mas me olharam esquisito. Guardei minha necessaire, catei meus paninhos de bunda em cima da mesa e botei o computador pra desligar, enquanto avisava "vou embora, tô passando mal". Culparam minha fragilidade emocional, a incompetência da cozinheira, um suposto surto de gastroenterite e os ets. A caléga da direita chamou um táxi e me levou até a portaria.
O trótil do motorista de táxi passou direto e contornou o prédio umas duas vezes, antes que eu quase me jogasse na frente do carro pra ele parar. "Ah, minha filha, o vidro é escuro e com o ar condicionado ligado não dá pra ver nada(!)". Então tá. Veio lerdeando e parando em cada sinal, mesmo após eu ter avisado que tava passando mal e tinha vomitado.
Resumo da ópera: saí de casa pra gastar 50 reais em táxi e almoço, comer comida nojenta e vomitar num banheiro sujo e azul. Devia ter ficado na cama e seria 50 reais mais rica.
14 comentários:
Credo... q blog horrivel... Deus do céu... as coisas pra vc tem mesmo é que piorar, só de ler contamina agente...
Pessimo dia pra Ti...
Tô fora!!!
Tenho lido seus blog a um tempo e adoro ,até de mau humor vc é engraçada!!!!!!!!
bjos e melhore pois o fds já chegou
Amiguinha demonha,
o seu relato foi deprimente e ao mesmo tempo muito engraçado. Pelo menos na sua repartição não tem o André Sapo CARVALHO te perguntando se você acha sexy o peito cabeludo dele.
Vc tá bulímica, mulher?
Lembra que com esse emprego, vc arruma crédito mais fácil. :-P
Os anônimos são tudo safado!
Assinem, porra!
Ai Roberta, vc de mau-humor me faz gargalhar!!!! Mas fiquei com peninha de vc, praguinha...
O que consola é saber que pro findi já tá tudo bem, né?
Beijocas!
Amiguinha demonha,
O último anônimo safado sou eu. Seu amigo da Engenharia Química de 20 anos atrás. Só eu sei do Sapo CARVALHO.
Bet, eles assinam e são anÔnimos meeeesmo assim, pq a assinatura é fake....ahuahuahau
Ro, minha cara e querida blogstar, gostei do novo visual do blog, como leio via RSS, não vejo nada além do texto, por isso vim aqui xeretar um pouco. A vida tá foda mesmo, por aqui em Gotham City está um saco também, trabalho chato, dias monótonos, almoços de doer e colegas de encher o saco. Pelo menos te serve de consolo saber que não é só com você? Hahahahaha! Beijos e VamoSemFrente!!
Também trabalho na Fiocruz, você é daonde aqui? Eu sou de bio-manguinhos. beijos.
Eu simplismente adoro quando vc escreve esses textos de mau humooor!
tbm sou assim e, detalhe, tbm sou peixe com ascendente em touro!
Bruna, eu sobrevivo.
Di Lello, e vc vai me fazer confraternizar com o André Sapo, né?
Ana, eu sei, mas pelo menos tenho a quem responder.
Fabio, sempre em frente.
Daniel, sou sua vizinha.
Nathália Rodrigues, o pior não é o mau humor, mas a raiva que sou obrigada a conter.
Roberta, Roberta...
Hoje voce conseguiu fazer uma coisa que não faço há tempos: rir.
Muito obrigada.
PS:qualaquer perrengue (maior rs), me liga.
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