terça-feira, 1 de setembro de 2009

Saudosismo

Sábado acordei adivinha como? Rá! Com o telefone, é claro! Às 11h da manhã a companhia masculina que tinha marcado de almoçar comigo ligou cancelando. Bom, pelo menos ligou, né? Na verdade, remarcamos para o jantar. Tava um lindo dia de sol, mas pelo bem da minha virilha, fiquei em casa e dormi de novo. Levantei depois das 13h. Adivinha quem me acordou agora? Outro bofe. Esses homens não dormem não, porra?

- E aí, gostou do baile charme?
- Tu me viu?
- Vi, tu tava com aquela tua amiga de cabelinho vermelho. Tu passou na minha frente...
- E por que não falou com a gente?
- Porque eu tava acompanhado.
- Ué, e isso é motivo?
- Fala sério, gata...
- Então, se tava acompanhado tá me ligando pra que?
- Porque te ver me deu saudade.... vamos nos ver hoje?
- Vai matar a saudade com a firanga estrangeira que tava contigo ontem.
Gargalhada dos dois lados.
- Tu não jeito, gata, por isso que eu sempre volto.
- Volta outro dia, hoje tu não tá com sorte.

Ele é palhaço mas me diverte, eu confesso.

********

Passei o dia em casa, aproveitei para dar uma arrumada no muquifo, que para mim tá sempre bagunçado, embora meus amigos se surpreendam com a minha organização.

À noite, desci para jantar com minha companhia masculina. Até que ele se redimiu e chegou cedo, 20h30. Raramente saio de casa antes de meia-noite num sábado. Comemos, bebemos, rimos, demos pinta pela noite, da Inválidos à Rua da Lapa. Comentamos a migração do público, o balé do lugar, como o fervo se espraiou, as camadas sobrepostas de grupos identitários. É curioso ver a Joaquim Silva "vazia", lembro de mal conseguir andar ali, ficar indo e voltando dos Arcos ao Beco do Rato. Comentamos o pastel de angu do Beco, que agora tá arrumadinho. Lembrei uma vez que fui lá com companheira Kalline e ficamos sambando com um mendigo sem dentes. Ele não largava um saco de lixo preto, provavelmente com o que tinha recolhido na vizinhança. A alegria banguela dele era contagiante. Naquela época, Kalline tava viciada no Beco, ia lá quase todo dia. Eu acabava indo junto de vez em quando.

Demos a volta pela Riachuelo, observamos bares de rock, o posto de gasolina onde já tomei muita cerveja do isopor da Tia, sentada num banquinho de plástico. Subimos até a Gomes Freire e comentamos os japas, a galeteria, o novo Arco-íris. Dobramos ali mesmo, pra não ver a escória que entra no Lapa 40 Graus. Sabe que nem vou mais ao Democráticos porque o vizinho me ofende?

Ele, assim como eu, é um ser noturno e etílico, frequentador da Lapa e de qualquer buraco sórdido no Rio de Janeiro onde se beba cerveja. Falamos a mesma língua, temos quase os mesmos amigos, lemos os mesmos livros, vemos os mesmos filmes, partilhamos visão de mundo, código ético e estético. Diferença é instigante, mas é doce estar entre os meus.

Depois de tanta etnografia e observação participante, paramos no Benedito que ninguém é de ferro. Bebemos, comemos, debochamos e rimos mais. Tava passando uma competição de vale-tudo na mega TV. Dois carecas tatuados se roçavam. Se já acho estranho televisões em bares, imagina para ver lutas. Olhei em volta e éramos as únicas pessoas lindas, de resto, só o rebutalho, como diria meu amigo João Baptista. Vazei antes que contaminasse minha beleza. Né que fui dormir anes das 3h da manhã de novo?

2 comentários:

Helga disse...

Adorei a ligação do segundo bofe, muita sagacidade numa só ligação.

Os amigos se surpreendem pela sua organização? Vc passa imagem de desorganizada é? hehehe

roberta carvalho disse...

Helga, não, Pedro Bó, é que tenho mania de arrumação e limpeza, daí eles se surpreendem ao comparar com suas próprias casas.