sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O mundo é estranho

Acho que a chuvarada de ontem tirou os malucos da toca. Hoje de manhã peguei o ônibus para a repartição e, mal sentei, vi um senhor pançudo entalar na roleta. O bruto trajava uma cecê-shirt verde-amarela de ombrinhos desnudos e carregava uma espécie de bolsa de viagem velha, suja e descosturada (visão do inferno). Fiquei observando e nisso cai da cintura dele um revólver velho no chão. Sim, o aleão-marinho tava armado. Antes que todos os (apavorados) passageiros dissessem algo ele pegou a arma, devolvou pra cintura de rolha de poço e avisou "sou policial", como se isso tranquilizasse alguém.

Pensei "que merda, é PM". Felizmente o ônibus não foi assaltado e ele desceu no IML.


Logo depois entra um rapaz magrelo meio sem dente, chinelas maiores que seus pés, bermuda e camiseta branca, imundo de barro e sangue. Parou na roleta segurando um papel enquanto bradava que não queria dinheiro na mão, queria apenas que alguém pagasse a passagem dele. Explicou que é muito dura a vida de viciado em drogas, que tava virado há uma semana e queria ir ao hospital ver a mãe. Uma senhorinha se comoveu e resolveu pagar a passagem dele, mas teve que insistir porque o cobrador não queria aceitar, não queria que o maltrapilho seguisse viagem. O rapaz passou na roleta e foi sentar no fundo do ônibus. Lá ficou chorando "mamãe, mamãe, mamãe...".

Pensei "que merda, é craqueiro". Felizmente ele parou de chorar e dormiu antes de eu descer na passarela 6.

Mas sorte mesmo foi os dois não terem se encontrado. Manhã animada, né?

3 comentários:

Fernando disse...

Precisa ter muita coragem para pegar ônibus no RJ.

Eu disse...

Porra...
O problema não é o ônibus, é a condição humana, cada vez mais decadente...

roberta carvalho disse...

Fernando, o mundo é estranho.

Carmen, pois é. Eu tenho pena dos craqueiros.