sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Pérolas de Betania

Ontem foi dia de Betania, o que sempre faz feliz. Como sempre digo, chegar em casa e encontrar tudo limpo e arrumado sem ter tido nada a ver com isso (a não ser o valor da diária) é um carinho, praticamente uma benção. Em nível de barnabé grevista, confraternizei com ela durante a manhã, antes de ir pra aula. Betania sempre chega atrasada, o que não faz a menor diferença na minha vida, desde que tenha vazado e deixado tudo em ordem até a hora que volte. Claro, ontem, como tava em casa a safada chegou às 8h40. Merecia ficar do lado de fora até às 9h, horário oficial, mas deixei entrar. Gosto de Betania.

Como eu, ela tem problema de fala: fala pra caralho. Tagarelamos horrores juntas. Ela me conta as novidades do morro e eu, as da Lapa. Falamos mal de nossas famílias e ela me conta dos podres dos outros clientes, poupando Ana Paula, por motivos óbvios. Espero que ela também me poupe pra Ana. Os outros eu não conheço mesmo, então foda-se.Informadíssima, ela chega sempre com um jornal popular embaixo do braço, destes tipo tablóides, que veio lendo no ônibus. Sabe de todos os crimes, escândalos e confusões. Pena que não acompanha novela, poderia me atualizar também. Em dia de Betania sempre chego atrasada no trabalho porque ficamos conversando enquanto tomamos café da manhã.

A faxina tá cada vez pior, mas e daí, né? Se eu que estudei e fiz concurso pra fazer o que faço mato meu trabalho, por que ela, que limpa privadas, não faria. Deixa ela. Tem dias que fico puta, mas depois esqueço. A bruta é boa faxineira, quando quer. No início, pra me viciar, era um escândalo de eficiência. Hoje em dia... faz só uma limpeza superficial e o que eu não disser que tem que ser limpo... não será. Namorado diz pra eu trocar de "secretária do lar" (ele usa o termo). Não troco porque a próxima será a mesma coisa e já garrei amizade com Betania.

Sabe, tem outro componente pra eu me conformar com a limpeza mal feita. Sinto culpa por ter faxineira, por pagar alguém pra fazer o que não quero, pelo "que" de escravidão. Me sinto explorando uma mulher que teve menos oportunidades do que eu. Nem exploro, sabe? Pago o que o mercado paga + passagem, não me importo que ela fume dentro de casa, compro todos os materiais de limpeza que ela sonhar e garanto sempre a skol e coca zero geladinhas. Ah, e ovo e salsicha pro almoço, que ela adora. Também compro arroz branco, porque ela diz que até come, mas o integral é horrível. Fruta ela não gosta. Doces pediu pra eu não oferecer, porque ela aceita e não pode (como todo mundo, precisa emagrecer). Bom, ela tem que trabalhar e se não for pra mim, vai ser pra outra que talvez a trate mal. Tento pensar assim pra aliviar minha culpa, mas não adianta muito.

Mas contei isso tudo pra comentar que ela me mandou parar de comprar livros porque as prateleiras não comportam mais. Disse pra ler de novo esses mesmo até me mudar, daí compro uma estante maior. Se ela mandou, né?

5 comentários:

Luana disse...

olha, eu penso meio como voce, pra que trocar time que esta (meio que) ganhando?

roberta carvalho disse...

Pois é Luana, nisso Betania vai ficando e já somos amigas. Ela anda fazendo uma faxina bem fraca, mas é gente boa e talz...

Carmen disse...

Amo Betania, amo você, amo seu muquifo. E continuo esperando nosso encontro.
Beijos Roberta Carvalho ;)
P.S. E amo mais ainda quando vc finalmente resolve blogar.Me faz feliz.

Anônimo disse...

Passo todos os dias no blog pra ver se tem post novo. Adoro quando você escreve, isso com certeza alegra meu dia.

roberta carvalho disse...

Carmen, ô minha amiga, quem dera eu conseguisse sair de casa, quem dera eu conseguisse blogar. Tô tão na merda, minha amiga.

Anônimo, qndo consigo blogar tb me alegra, mas é difícil vencer a inércia e fazer alguma coisa.