sábado, 9 de fevereiro de 2008

Domingo de carnaval

Encontrei com Nara, mau-humor do capeta, indo para o Boitatá. Ela odeia blocos matutinos, mas tinha comprado uma fantasia de carta de baralho e já tava atrasada. "Vou tomar banho e comer e te encontro lá, filha".

Joguei a tranqueira molhada na área de serviço, tomei um banho muitom muito quente e demorado, sentindo muita pena de mim mesma. Tomei café morninho e gostosinho e me arrumei. Já tava uma nova mulher e pronta pro bloco. Peruca chanel roxa, tiara de princesa, vestido branco.

Olhei pela janela e chovia pra caralho. Boitatá de cu é rola, já tomei chuva na cara demais pra uma mesma manhã. Liguei pra Bonitinho avisando que não ia, tirei a indumentária e botei o pijama. Dormi até o cu fazer bico.

Despois soube que o bloco bombou, mesmo debaixo de chuva e que havia vários palhacinhos imperianos lá, a putada foi à pé, direto da Avenida. Não sei que drogas eles usam, mas quero não.


De volta ao Sambódromo

Confesso que fiquei traumatizada com a chuva durante o desfile e tudo que eu queria era um teto sobre minha cabeça. Acordei, comi, me arrumei e parti pro Sambódromo de novo, mas em nível de expectadora. Me juntei com minha gangue de foliões de repartição, Mendonça, Vavs e Magno e partimos.

Olha, foi uma noite estranha também. Acho que eu ainda não tava refeita ou com a alma seca. Senti muito frio a noite toda, a ponto de tremer. Dei pinta, encontrei amigos, comi, bebi, ri e até cantei, mas não sambei e, pra ser sincera, não me diverti. Ri e fofoquei com Krakovics, que debutava no Sambódrom em nível de repórti. Vi o desfile da Portela inteiro e parte dos das outras escolas.


O destaque da noite foi Mendonça, colocadíssimo, que no lugar de discursar como costume, baixou o comentarista. "Olha o buraco, não pode! Assim prejudica a evolução, vai perder ponto!". Mais tarde, mais colocado, ele apenas regia a bateria com a mão direita, enquanto a esquerda inclinava a ponto de derrubar prosseco no meu pé. Coisas de Mendonça.

Quando a Mangueira entrou ele ficou animado com as bandeirinhas verde e rosa.
"Olha, nenhuma escola tinha animado assim o povo!".

- Mendonça, as outras escolas não têm dinheiro pra distribuir bandeirinha pra todo mundo assim.
- Mas tá todo mundo cantando o samba....
- Mendonça, é a Mangueira...
- É verdade, e 90% de quem tá aqui é paulista....
- Só paulista tem dinheiro pra comprar os ingressos...
- E quem é de fora e não entende nada de Rio de Janeiro sempre é Mangueira e Framengo...
- Pois é... cafona...
- Vamos beber! Foda-se a Mangueira!

***

Quando távamos indo embora, dia clareando, combalido, Mendonça já quase não articulava palavras. De repente, passa a Juliana Paes, fantasiada de maracujá (plumas amarelas com a pontinha preta, pareciam os carocinhos da fruta), rodeada de seguranças e seguida por catadores de latinhas, camelos e outros bebados. Mendonça, num arroubo de animação, nos largou e saiu correndo ao lado da musa do hortifruti, batendo palmas. Nosso retratista, ao ver a atuação do chefe da repartição, balbuciou "que isso...". Vavs se conformou "ai, meu deus". E eu xinuei "puta que pariu! Quero ir embora, porra". Em alguns instantes ele voltou alegre e refeito.

Nenhum comentário: