terça-feira, 28 de outubro de 2008

Mau humor, teu nome é Roberta

Mau humor, teu nome é Roberta

Hoje estou tão mal-humorada, com tanta raiva, tão puta de tudo que desandei. Desci do ônibus e fui andando pela nada aprazível cercania da repartição pensando como era simplesmente impossível ser feliz fazendo aquele trajeto diariamente. Aí na minha frente tinha uma daquelas pessoas que andam devagar mas não te deixam passar sabe? Era uma mulher jovem e gorda, com uma bolsa enorme no ombro e andava de braços meio abertos: ninguém mais podia passar. Encostei levemente no repugnante ombro gordo dela e engoli o nojo para, sorrindo, dizer "com licença" e passar andando muito rápido e sem olhar pra trás. Foi quando eu pensei "por que sou educada? Por que não dei um empurrão e disse "sai da frente, desgraçada"? Pois é, porquê é coisa que não existe e é preciso muita coisa, preciso estar muito descompensada pra conseguir fazer isso.

Daí segui, exalando ódio por todos os poros, pensando que merda ter que caminhar tanto pra entrar naquela buraco quente desgraçado onde trabalho. Pensando que merda maior ainda, os desgraçados-imbecis-filhos-da-puta que não acham ruim, pior, acham bom. Pelo menos me regozijei de ter senso crítico suficiente pra saber que aquilo é uma merda fedida e grudenta. Segui meu caminho pisando firme. Quando passei pela guarita de entrada, quase fumegando de ódio, apesar de eu estar com cara de assassina psicopata e óculos escuros em um dia nublado, a guardete me deu bom dia. Talvez pela primeira vez na vida eu não respondi. Respirei fundo, bem fundo e resmunguei sem parar de andar "bom dia? bom dia? bom dia é o caralho!". Já tinha saído da casinha da entrada, quando, mal tinha acabado de pronunciar "é o caralho" uma velha gorda com maquiagem em excesso botou a mão no meu ombro. Como assim essa besta-velha-suja atravessa meu caminho e bota a mão em mim? Ela tinha saído de dentro de um táxi estacionado onde havia mais pessoas.

- Filha você trabalha aqui?
- Sim.
- Você pode me dar uma informação? É que tem uma senhora aqui que é de fora do Rio e precisa ir numa secretária e...
- Não.

Disse um "não" seco, sem expressar raiva, desprezo ou nojo e ela não pode ver meus olhos graças aos óculos muito escuros. Como assim a velha não viu que eu tava resmungando "bom dia é o caralho" e vem me pedir informação? Não, não tenho informação pra dar e se tivesse também não daria. Caguei. Inclusive espero que vcs morram e parem de poluir o meio-ambiente e produzir esgoto. Segui subindo a ladeira que leva ao prédio sórdido e mal cuidado onde ganho meu sustento. Subi as escadinhas pisando bem firme, pra tentar sentir do no pé e algo desviar minha atenção da minha raiva, ter outra coisa pra pensar, sabe? Segui maldizendo a humanidade e.... e algum filho-da-puta desgraçado tinha parado uma pick-up imensa bem na porta da minha sala, tive que dar a volta no carro pra entrar. Claro, nisso o imbecil ocupou duas vagas, ele parou no meio de duas vagas só pra impedir a porta e entojar a minha vida. Espero que ele tenha um derrame e morra sangrando como um porco abatido quando sentar no volante e ligar o carro, se isso acontecer vou lá sorrir pra ele. Será legal.

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